sexta-feira, 18 de setembro de 2009

POEMA DA NOITE


Adormecida - Castro Alves
Uma noite, eu me lembro... Ela dormia Numa rede encostada molemente... Quase aberto o roupão... solto o cabelo E o pé descalço do tapete rente.

'Stava aberta a janela. Um cheiro agreste Exalavam as silvas da campina... E ao longe, num pedaço do horizonte, Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados, Indiscretos entravam pela sala, E de leve oscilando ao tom das auras, Iam na face trêmulos — beijá-la.
Era um quadro celeste!... A cada afago Mesmo em sonhos a moça estremecia... Quando ela serenava... a flor beijava-a... Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

Dir-se-ia que naquele doce instante Brincavam duas cândidas crianças... A brisa, que agitava as folhas verdes, Fazia-lhe ondear as negras tranças!

E o ramo ora chegava ora afastava-se... Mas quando a via despeitada a meio, P'ra não zangá-la... sacudia alegre Uma chuva de pétalas no seio...

Eu, fitando esta cena, repetia Naquela noite lânguida e sentida: "Ó flor! — tu és a virgem das campinas! "Virgem! — tu és a flor da minha vida!..."

Antônio Frederico de Castro Alves (Curralinho, 14 de março de 1847 - Salvador, 6 de julho de 1871). Foi um dos mais importantes poetas brasileiros. Disse uma vez: "Considero-me um poeta. Integrado no meu tempo. Cantei a natureza, a mulher, o amor e vivi a causa do meu século: entreguei-me inteiro à causa dos escravos". Castro Alves viveu pouco, porém, intensamente. É patrono da cadeira 7 da Academia Brasileira de Letras. O poeta, que sofria de tuberculose, morreu prematuramente aos 24 anos. A cidade onde nasceu, hoje, chama-se Castro Alves.

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