segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Só falta essa...


A economia cresceu com distribuição de renda e atravessou veloz a crise financeira mundial.
O governo balançou com o escândalo do mensalão, mas não caiu e hoje é sustentado por 14 partidos.
O país nunca teve presidente tão popular.
A Copa do Mundo de 2014 é nossa e os Jogos Olímpicos de 2016 também.
O que falta para Lula proclamar do alto de sua reconhecida modéstia que realizou a obra perfeita?
Eleger seu sucessor.
Jamais na história democrática do país um presidente da República passou a faixa para quem escolheu. Itamar Franco passou para Fernando Henrique, seu ex-ministro das Relações Exteriores e da Fazenda. Mas quem elegeu Fernando Henrique não foi Itamar – foi o Plano Real que acabou com a inflação.
Em visita ao Maranhão, o ex-ministro José Dirceu, articulador “ad hoc” da candidatura da ministra Dilma Rousseff a presidente, soprou para colegas a fórmula que imagina capaz de garantir a eleição dela.
Primeiro há que se comparar à exaustão as realizações do atual governo com as do seu antecessor. Segundo há que se massificar a informação de que Dilma é a candidata de Lula. Cerca de 40% dos brasileiros ainda ignoram isso.
E o mais importante: a certa altura da campanha, Lula haverá de se afastar das tarefas prosaicas da administração para se dedicar com exclusividade a percorrer o país carregando Dilma debaixo do braço.
Dilma não tem e dificilmente terá votos próprios.
Com a entrada em cena da senadora Marina Silva (PV-AC), perdeu a condição de ser a única mulher candidata a presidente. Vencerá se o eleitor se convencer de que ela é Lula de saias.
Tanto melhor se o eleitor acreditar que Dilma na verdade é candidata a um mandato tampão.
Uma vez que se eleja, cederá o lugar depois de quatro anos a quem não pôde concorrer ao terceiro mandato consecutivo.
Lula costuma dizer que será mais fácil tentar voltar em 2014 no caso de derrota de Dilma em 2010.
Bobagem! Na prática, o mandato de presidente, governador e prefeito é de oito anos – com uma confirmação pelo meio.
Enfraquecido ao final do seu governo, Fernando Henrique sabia que seu candidato estava condenado à derrota. De sua parte, José Serra sabia que chegara a hora de Lula.
Nem Fernando Henrique suou a camisa para eleger Serra, nem Serra quis que ele suasse. Preferiu manter distância. Jogou na mesa uma carta implausível, a única que tinha: apresentar-se como o candidato da mudança, talvez mais confiável do que Lula. Não deu certo.
A ninguém Fernando Henrique confessou que apostava no insucesso de Lula para subir outra vez a rampa do Palácio do Planalto. Mas não é de todo um disparate especular que ele apostava, sim.
Lula poderia ter cedido à tentação de mexer com a política econômica. Havia conselheiros de sobra ao seu redor sugerindo que mexesse. Era desprovido de experiência para governar - Dilma não é. E foi atropelado por mensaleiros e aloprados.
Fernando Henrique é um retrato na parede. Lula recusa tal destino.
Desistiu de brigar pelo terceiro mandato consecutivo porque a idéia pegou mal no seu círculo íntimo de assessores e aliados. Contudo, a candidatura de Dilma foi concebida por ele para ocupar espaço à espera da ocasião ideal do lançamento de algo parecido com o movimento “queremista” que devolveu Getúlio Vargas ao poder em 1950. Mas aí veio a crise dos bancos.
A crise despachou o “queremismo” para o freezer. Enquanto espera que Dilma volte a subir nas pesquisas de intenção de voto, Lula deixa Ciro Gomes (PSB-CE) brincar de candidato a presidente.
Ciro só será candidato para valer se abrir uma razoável vantagem sobre Dilma. Então Lula poderá até trocar Dilma por ele. Do contrário, acabará forçado a abandonar o páreo e a disputar o governo de São Paulo se quiser.
Falta cacife político e financeiro a Ciro para enfrentar Dilma contra a vontade de Lula e do seu próprio partido.

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