domingo, 10 de março de 2013

Carta ao irmão Sandro





Por: Alex Mendes  
Guardo com muitas saudades das lembranças da minha infância recente. Recorda minha infância é viajar em um passado que o tempo não apagou da memória,  porque foram momentos vividos, saudosos e inesquecíveis. Nesta reflexão nesta manhã de domingo com sol já batendo em minha janela, como diria Cazuza “vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades”. Meu querido meio irmão vai casar, com a mulher que ele namorou a vida inteira. Diria que são coisas do destino, ele me responderia que é coisa divina. Pelo sim pelo não, fico com olhar espiritual da coisa. 

Sandro, filho da minha querida tia Raimunda, mulher de fibra é um coração do tamanho da sua generosidade. Fui criado pelos meus avos maternos e pelo meu querido Tio Solano, guardo os três no meu coração. Sandro é um irmão querido. Não tem como recordar da minha infância sem lembrar o Sandro. Éramos uma espécie de pink e cérebro, porém, nosso objetivo não era conquistar o mundo.  
Meninos pobres, nossa única diversão era uma bicicleta velha que meu tio tinha. Lembro que nossas manhãs nunca mais foram às mesmas, depois que apreendemos andar de bicicleta. Inventamos motivos para ir ao sitio que meu avô morava. Ainda lembro-me da casa de barro, coberta de palha e um terço na porta, uma rede velha, o único móvel que a casa possuía, era lá que meu avô descansava. Foi lá que apreendi a compor, foi lá que apreendi a subir em árvore. Foi lá que apreende a importância do trabalho em equipe, nos puxiruns que meu avô organizava para fazer seus roçados. Aquilo me fascinava as pessoas trabalhavam pela amizade que tinham umas pelas outras. Era uma grande confraternização. Acho que foi lá que apreende que o todo é mais importante que a parcela.
Lembro com saudade da água gelada do igarapé do sitio, foi lá que aprendemos a nadar por força da necessidade. Lá não tinha chuveiro. E lá na água traçávamos os nossos futuros, eu sonhava em ser arquiteto, Sandro jogador de futebol. Eu São Paulino, o Sandro Palmeirense. Fazíamos o percurso da casa da minha avó até o sitio do meu avô todas as manhãs. 

Uma noite o Sandro chegou à casa da minha avó, suado, respiração ofegante, uma bermuda verde e sem camisa, para me contar que foi aprovado na peneira para jogar no Palmeiras. O sonho acabou quando ele chegou à casa da tia Raimundo. Ela simplesmente fez ouvido de mercador. Sandro sepultava ali o sonho de ser jogador profissional.  

Meu tio me deu de presente uma bicicleta, ainda lembro a felicidade que senti neste dia. Em seguida com muito esforço e guardando as economias o Sandro conseguiu juntar uma grana que não dava para comprar uma bicicleta para ele. Foi o jeito o improviso. De peça em peça a bicicleta estava sendo montada. No fim restou apenas pintar o quadro. Azul foi à cor escolhida por Sandro para sua bicicleta. Momento inesquecível esse. 

Às vezes viajo nesses pensamentos sem me dar conta que já se passaram tantos anos! O namoro escondido na praça. Até hoje nunca aprendi a dançar. O Sandro dançava, sempre dançou. Acho que deve ter apreendido na festa das crianças no chapéu de palha. As lembranças guardadas no arquivo da memória existem em minha vida de todas as formas.

Sandro presenciou minha primeira composição “Juruti coberto de ouro”, letra ridícula, um plagio da música do garantido, “     Eldorado".  Discutia com ele os versos de Castro Alves, ouvíamos atentamente a fita de Raul Seixas e Renato Russo. Eram momentos inesquecíveis e intensos aqueles. Os primeiros traçados da música mitos eternos foi feito em uma manhã de chuva na casa da minha avó na companhia do Sandro. Disse a ele que iria fazer uma viagem ao inferno, pois é, saiu a mitos eternos. Ano importante da minha vida. Aos 15 anos era compositor da Tribo Mundurucu.  

Nenhum vestígio foi apagado, da minha memória – o primeiro amor... Que não se desfaz em detalhes... Que sigo, descobrindo cada segredo desse caminho perdido. Sou o espelho da minha própria existência. Lembranças... Muitas lembranças...Amarguras...saudades...decepções.

Os anos passam, as rugas aparecem, e aprendemos a lidar com elas. São expressões na linha do tempo das alegrias e tristezas vividas, que fazem parte da minha vida.

Parabéns meu irmão Sandro, feliz pelo seu casamento se sinta abraçado... 

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